Você provavelmente vai olhar pra este pedaço de papel com um certo enjoo. Mas não se preocupe. Esse não é mais um daqueles meus escritos melosos e chorosos que você tanto odeia. Eu sei que você sempre odiou esse meu lado poético. A mania que eu tinha de passar a perna por dentro da sua na hora de dormir. Essas coisinhas que de tão bobas e minhas fa
zem você lembrar de mim e até sentir saudade, quem sabe. Saudade de tudo que poderia ter sido e não foi. Do que fomos, do que fizemos. Do que sentimos. Dos sentimentos. Esses pequenos detalhes pros quais nunca ligamos. Não parecia, mas era verdadeiro. Todo mundo sabia, menos a gente. E todo mundo olhava e falava “Eles são tudo um pro outro, ta vendo?”. Mas não, não fomos. Não somos e nunca seremos. Eu nunca fui, e nunca serei suficiente. Mas eu poderia ter sido tudo pra você. Eu sempre quis ser tudo isso. Porque pela primeira vez, nesses mizeros 16 anos, eu quis que algo desse certo. Eu quis que algo permanecesse. Que algo durasse. Eu deixei tudo em segundo plano: o meu orgulho, as minhas manias, o meu chororô, o meu amor próprio. Deixei de ser eu, pra ser você. Pra ser nós. Eu me doei, eu me doí. Mas nem liguei. Porque eu achei que valeria a pena tanto sacrifício e entrega. Eu quis tanto que desse certo, meu Deus. Porque ia dar certo, ia dar. E quando chegava à noite, eu sussurrava baixinho, na esperança de que você ouvisse: “Fica. Fica mais um pouquinho. Deita aqui ó. Fica hoje. Fica pra sempre.” Eu te quis tanto bem, mas tanto bem, que deixei de querer bem a mim mesma. Patético, não acha? Agora eu acho. Porque hoje não te desejo mais nada. Porque, pela primeira vez em 332 dias, eu sorri, e o motivo de tal sorriso não foi você. Não foi por ter você, ou por te pertencer. Foi por mim. Foi pela vida. Pelas oportunidades que ela me deu, me dará. O que nós tivemos foi bom, confesso. Mas acabou. E eu me dei conta disso quando te vi sorrindo e sendo feliz por aí sem mim. Quando eu me vi sorrindo e sendo feliz por aí sem você. Porque a vida segue. E eu sigo em frente. E você vai ficar pra trás. No passado. Que a cada dia vai se tornar mais passado, e menos presente. Em ti, e em mim principalmente. Assim como você, eu cansei. Essa coisa de amar sozinho, não é tão romântica na prática quanto é nas letras das canções que ouvíamos. Mas nós não precisamos mais disso. Essa coisa de sofrer por um meio amor. Você abandonou o nosso, e depois disso eu parei de cultivá-lo. É triste. Ter amado tanto e tanto amor não ter tido proveito algum. Recompensa alguma. É triste e inútil. E desnecessário. Estamos bem assim não estamos? Eu aqui, você aí. Como dois estranhos. Como duas metades que não se encaixam, que nunca se encaixaram. Espero que você esteja bem do jeito que está. Porque de hoje em diante, é assim que vai ser. Porque eu cansei. Cansei de me dobrar e desdobrar pra encaixar nesse teu mundo agridoce. Eu não caibo aí. Nunca coube. E eu por tanto tempo achei que a felicidade estava aí, nos teus braços, contigo. Engano meu. Hoje pela manhã me olhei no espelho e vi refletida nele o único ser capaz de me proporcionar felicidade. Fechei os olhos, lembrei da gente, e não doeu. Não deu saudade. Nada. É isso. Estou curada.”
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