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quinta-feira, 20 de setembro de 2012


Terapia de cas…Terapia de quê mesmo? “De casa bagunçada, roupas no chão e comida ruim. Acho que é isso.”
Há quanto tempo vocês estão juntos? “Há dois anos, oito meses e vinte e nove dias.”“Há dois anos e nove meses, eu acho. Hm…é. São dois anos e nove meses. Se tu perguntar pra ela, ela provavelmente vai te dizer os dias certinho, e se brincar, até as horas (risos). Tá. Dois anos e nove meses.” E o que diabos vocês estão fazendo aqui? “Ele só pensa em trabalho o dia todo, sabe? Trabalho, trabalho, trabalho. E à noite…à noite ele faz falta. Mais ainda que de dia. Não são só as roupas jogadas pela casa, a escrivaninha bagunçada ou a pia suja de creme dental. Ele faz falta. É isso aí.” “Cara, eu não faço ideia. Quando ela me disse pra vir aqui hoje, nesse horário das três da tarde, eu parei e fiquei uns dez ou quinze minutos pensando no “por que diabos” de virmos pra cá. Talvez ela estivesse cansada de cozinhar pra mim, mas acho que não. Ela não gosta que eu coma comida da rua e muito menos industrializada. Desde aquele dia eu procuro não deixar mais tantas roupas jogadas pela casa e até organizei minha mesa de trabalho, mas também desconfio que não seja nada disso. Não sei o que foi.” Como andou a convivência de vocês em casa nesses dois últimos meses? “Mês retrasado era aniversário da minha mãe. Ela adora o Matheus, sempre adorou. Todo mundo adora o Matheus lá em casa, na casa da vizinha e em qualquer outro lugar, pra falar a verdade. Na época ele tava no meio de um projeto fotográfico num orfanato, se não me engano. E ele não quis ir. Bateu os pés e bateu boca que tinha pouco tempo pra terminar o trabalho e que queria que tudo ficasse perfeito, não quis ir de jeito nenhum. Acabei levando ele, mas ele foi contrariado e ficou com cara de bunda a noite toda. Quando chegamos em casa, eu quis conversar sobre isso, mas ele não quis. Ele nunca quer. Acabou me ganhando no desejo e na vontade e ficamos por isso mesmo; mas eu fiquei meio chateada com ele. Mês passado não aconteceu nada, mas é como se ele estivesse cansado, sabe? Enjoando de mim. Os homens enjoam mesmo, não? De beijar a mesma guria, abraçar e fazer sexo com a mesma guria por dois anos, oito meses e vinte e nove dias. É normal pros homens comuns. Mas eu sempre pensei que pra ele não.” “Estamos em Julho, né? Maio. Dia doze de maio era o aniversário da mãe dela. Eu gosto muito da dona Laura, gosto mesmo. Mas eu acho que em dois anos e nove meses ela ainda não se acostumou comigo. Não que ela não goste de mim, mas acho que ela não confia na minha capacidade pra cuidar da Nicole. Coisa de mãe, eu acho. Eu só não queria estragar a noite. Era aniversário dela e ela não ia querer se sentir na obrigação de observar um genro irresponsável a cada instante que ele chegasse perto da filha dela. Além de que eu também já tinha observado que as duas estavam se afastando. Nicole sempre foi muito chegada à família, e eu pensei que talvez as duas devessem se divertir juntas naquela noite e se reaproximar. Mas ela me levou junto de qualquer jeito.”Quando foi a primeira vez que vocês se viram? “Uma amiga minha, Letícia, me chamou um dia pra dar uma volta com ela e uns amigos dela. Acabei indo, não tinha nada pra fazer mesmo. Quando ela chegou em casa pra me pegar, o Matheus tava sentado no banco de trás e os dois bancos da frente estavam ocupados, então acabei sentando do lado dele. A primeira coisa que pensei foi que ele tinha tomado banho de perfume. Não que eu não tivesse gostado, o perfume dele é maravilhoso. Mas foi engraçado. Não tive com ele aquela coisa de “ódio à primeira vista”, mas também não amor. Foi um dia legal e no fim da tarde já estávamos fazendo piadas sobre o cabelo um do outro e rindo feito loucos.” “A primeira vez que eu vi ela foi numa padaria. Ela tava linda. Linda mesmo. Um shorts jeans curto que hoje me faz remoer de ciúmes e uma camisa maior que ela com “The Beatles” estampado nas costas. Dez segundos depois de ela sair pela porta com um saquinho de pães-de-queijo, liguei pra Letícia pra perguntar se ela conhecia a tal guria. Insisti e acabei conseguindo um encontro falso com ela no dia seguinte, que foi a primeira vez que ela me viu. Uma coisa que raramente os namorados e dizem sobre suas namoradas é que elas são ótimas amigas. A maioria das namoradas são. A Nicole é maravilhosa. Como pessoa, como amiga e como namorada. Acho que a única coisa em que ela é péssima é cozinhar (risos). Acho que mesmo que a gente não se gostasse, eu adoraria passar tardes conversando com ela.” E qual é a hora em que você mais sente falta dele/dela? “O dia inteiro. Às vezes quando ele tá trabalhando, eu chego por trás e fico adulando, sabe? Passando a mão no cabelo, dando beijinhos no pescoço…mas acho que ele não percebe. Eu sinto falta dele o tempo todo.” “Uma coisa da qual eu não abro mão é fingir que não percebo como ela quer carinho quando fica me alisando enquanto eu trabalho. É hilário e apaixonante ao mesmo tempo. Ela é apaixonante. Mas acho que quando eu mais sinto falta é à noite. Eu sinto falta dela de dia também, é claro. Mas à noite…à noite ela faz falta. Muita falta.”
— A noite chega a arder da falta que ela faz, Ana Luísa K.

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