“A gente precisa sorrir e chorar bastante e descobrir o lado e bom e o ruim de cada um. Precisa andar na chuva e no sol e sentir qual o melhor solo para se pisar. Precisa tomar uma boa taça de vinho e se lembrar de que é isso que os italianos fazem para viver mais. Precisa aprender a jogar algum jogo de cartas para, quem sabe, passar o tempo com os amigos na falta de luz. Precisa passear por alguns parques e ver os passarinhos namorando em árvores. Precisa comprar presentes e fazer os próprios cartões de felicitações. Precisa sentir a pele arrepiando com o outro entrando pela porta ou gostar de muita gente e amar apenas um. Precisa saber que é inocente, mas não se deixar ser a vítima. Precisa ter bom humor para o celular que acabou a bateria, o chaveiro que sumiu, a manhã que começou ou o amigo chamando no telefone. Precisa ler livros, dar livros de presente, sentir as palavras e até escrever um livro, se assim for. A gente precisa sentir os impactos, mas levantar do terremoto. Precisa lembrar sempre que há alternativas na vida, mas que a morte não tem saída. Precisa ter paciência no fim da festa, calma no domingo em família e atrevimento na oportunidade de emprego. Precisa ter um bocado de roupas coloridas e passar o verão de pés descalços. Aliás, precisa pisar na neve, na areia e na água. A gente precisa deixar uns entrarem e outros saírem. Precisa cozinhar ouvindo uma boa música e tomar menos remédios. Precisa fazer piadas sem graça e não entender outras tantas. Precisa rir do amigo que tropeçou e dar a mão para rirem juntos. Precisa tirar uma moça para dançar ou deixar um rapaz enlouquecido de paixão. Precisa deixar a lágrima cair e a garganta destravar. Precisa ser o momento triste e o momento feliz. A gente precisa arrumar a vida, deixar ela se desarrumar e tentar tudo outra vez. A gente precisa de muita coisa, de uma lista imensa, de um abraço apertado, de um beijo calado, de ver desenhos nas nuvens e carregar crianças no pescoço… A gente precisa ser o que for, vivendo.”
— Camila Costa.
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