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quinta-feira, 26 de julho de 2012


Há um tempo abordaram uma pergunta sobre um assunto delicado que eu não soube responder . O que é amor pra você? – foi o que me perguntaram na frente de uma certa quantidade de pessoas. Naquele tempo eu me limitei a rir. Isso é pergunta que se faça? Olhavam para mim esperando uma resposta. Eu era sempre tão cheio de palavras, tão explicativo em tudo, e eles se decepcionaram quando duas enormes palavras saíram da minha boca: Não sei. Hoje, se me perguntassem essa mesma pergunta fora de nexo, acho que eu ainda não saberia achar uma resposta na minha cabeça congestionada. O que é amor para mim? Substância desconhecida que gera efeitos paranoicos, mais conhecido como um mistério, que nem o mais habilidoso e bem pago cientista é capaz de resolver. Digo, que mania chata de querer entender tudo e não deixar as coisas fluírem. Amor não é algo que você vai coletar em potes de plástico, levar pro laboratório e investigar suas moléculas. Amor é a força estranha e poderosa que você vai sentir no sorriso provocado no meio de uma conversa. É a forma involuntária de seu corpo, sua mente e todos os seus músculos se sentirem atraídos por um tipo de magnetização que, eventualmente, o sorriso, os olhos e a boca e todos os centímetros da outra pessoa vai ter. Amor é aquele formigamento na palma da mão, aquela sensação de estomago corrompido, de respiração cortada, de incapacidade de formular frases completas. Amor é você ter de acordar no outro dia seis horas, pra pegar um metrô estupidamente lotado para trabalhar e, ainda assim, acordar no meio da madrugada para atender o telefonema extremamente fora de hora da outra pessoa, somente para ouvi-la dizer que teve um pesadelo e esta com medo. Amor é você perder o medo de dirigir, de voar e de andar de barco para, assim, atravessar a cidade, atravessar os céus e os oceanos para vê-la, até atravessar o inferno se necessário. Amor é, naquela briga feia numa tarde de domingo, você saber que está certo e que tem razão e mesmo assim pedir desculpas. É engolir o orgulho a seco e correr atrás mesmo quando a pessoa te dá mil e um motivos para desistir. É, aliás, ter motivos suficientes para desistir e não fazê-lo. É querer cuidar mesmo quando a pessoa não merece um pingo de afeto. É querer estar perto, é querer pisar o mesmo chão e até respirar o mesmo ar. É largar tudo o que está fazendo quando ela ligar e dizer:”Tô precisando de você”. É ter saco, depois de um dia longo e cansativo, para responder as sms dela dizendo que você está estranho e não a ama mais. Poxa, eu não estou estranho, estou cansado. Não deixei de te amar, apenas estou com sono. E, mesmo assim, você dizer que não, que a ama demais, porque, se você mandasse aquilo, iria soar grosso para ela. Amor é você se submeter a ser uma pessoa que não é, gostar do que não gosta, mudar o gosto musical, as roupas, o corte de cabelo e até os gostos gerais só porque vai agradá-la. Sendo que isso está obviamente errado e extraviado. As pessoas têm que gostar da gente como somos, e nada mais justo. Amor é começar a desejar as coisas mais simples e detalhadas: ver um pôr do sol, ver um nascer do sol. Dormir sob o céu noturno ao lado de uma fogueira, fazer sexo sob esse mesmo céu, extremamente incrustado de estrelas a iluminar tudo. Sexo não, fazer amor. Nada mais clichê e bonito. Mas, sim, amor. Fazer amor, porque sexo é uma coisa muito selvagem e sem sentimento. Não que todo sexo tenha que ter amor, mas estamos falando de amor. Amor é você ter especialmente e exclusivamente olhos, boca, corpo e alma só para ela. Não ter necessidade de outro alguém. Não estar por medo de ficar sozinho, mas sim porque gosta de como ela anda, de como ela fala, de como mexe nos cabelos, de como sorri, de como fica lindo ou linda brava, com vergonha ou com ciúmes. Amor é, primeiramente, não precisar da pessoa toda hora, mas precisar sempre. Querer todos os benditos dias ouvir a voz dela porque te acalma, te faz bem. Amor é você, muitas vezes, ser suficientemente forte para vê-la ser feliz com outra pessoa. Se contentar em ser só amigo, em ter só abraços, em ouvir só a voz. Amor, muitas vezes, é você revirar na cama a procura de uma posição confortável e descobrir que não é posição alguma que você procura, mas sim o preenchimento do espaço que está vazio. O espaço dela, o lugar dela , na sua cama, no seu coração. Amor é você ter todas as chances de trair e, mesmo assim, não mover um dedo para tal coisa, porque ela basta, cara. Porque essa pessoa já é tudo e mais do que o suficiente que você poderia querer e esperar. Amor é sua família proibir, seus amigos julgarem, o destino está contra e, mesmo assim, você dar o seu jeito e fazer de tudo para ficarem juntos. É você fugir do castigo, mentir para os pais, matar aula, não prestar atenção às coisas e se dar conta que nada mais ocupa sua cabeça senão aquele único sorriso. É você perceber que até sentado no vaso sanitário você está pensando nela, cara. É nada mais fazer sentido sem ela por perto, entende? Amor é isso: se entregar sem garantias de devolução, sem garantias de que vai ter o mesmo amor dado, recebido. Amor é não saber exatamente se a outra pessoa vai te soltar no penhasco, vai cair junto com você ou se ela vai te prender à mesma corda que ela só para não haver perigo de você escorregar e cair. Amor é sentir saudade. É morrer de saudade. É apanhar da saudade. Amor é amor; sem promessas quebradas, sem pressa e sem culpa. É se apaixonar todos os dias pelo mesmo sorriso, pelos mesmos olhos, pela mesma boca. É ter centenas de razões para largar tudo e não largar. É ter medo de se afogar e mesmo assim se atirar no lago. É ter o coração partido e, mesmo assim, amar a pessoa com todas as suas forças, como se ela nunca fosse voltar a quebra-lo novamente.
— O que é amor para você? - Foi o que me perguntaram. Quis dizer que era você.  (sixtyhell)

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