Então, já passou da hora de admitir que você estava certo. O tempo todo e sobre tudo. Amar é destruir e você… Você me destruiu. Se permitir sentir algo é a maneira mais fácil de desistir de sentir qualquer coisa. Hoje eu me ajoelho em frente à um templo qualquer com a esperança de que tudo que há dentro de mim apenas se esvaia. Todo esse lance de querer dar a vida por alguém é baboseira de quem não consegue amar à si mesmo. E o amor? O amor não existe. Você sempre esteve certo. Eu que fui idiota o bastante para não acreditar. Você esteve ali esse tempo todo, tentando abrir meus olhos. Eu escolhi continuar cega. E, se fosse possível, voltaria no tempo e não enxergaria de novo. Porque toda essa vista nova, todo esse mundo preto e branco e sem amor é tão… Cruel. É tão sem graça e maldoso. O sol não brilha mais. Tudo era tão mais bonito quando eu acreditava que o teria ao meu lado para sempre. Tudo era tão mais fácil. Simples. Mas você, como o idiota que sempre foi, teve que estragar tudo. Você não aceita a felicidade se ela vier anexada à outra pessoa qualquer. Até mesmo quando essa pessoa sou eu.
Que droga, garoto. Esse tempo todo tava tão fácil de me ganhar. Eu quase implorava para que você me tivesse. Sempre dizendo que eu era cega – e talvez até fosse – quando, na verdade, quem não queria ver nada era você. Eu sempre estive ali. Mesmo quando você me dizia para não estar. Mesmo quando você não queria que eu estivesse. Mesmo quando o mundo inteiro dizia que eu não deveria estar. Eu sempre estive ali. Mesmo quando você estava lá para todas as outras, menos para mim. E, se você não sabe o que isso significa, não sou eu quem vai te contar. Se você não sabe por que eu passei a madrugada inteira tentando te convencer de que o amor existe, não há nada mais para ser dito. Se você não sabe por que eu te conheço melhor do que ninguém, por que eu vejo por trás de todas as armaduras que você insiste em erguer… Bem, é uma pena. É uma pena que você tenha escolhido não enxergar em vez de deixar o sentimento aflorar entre nós dois. Depois de todo esse tempo… Você continua sendo a mesma criança que eu conheci há alguns anos atrás. O mesmo menino que deixou de ter medo do escuro porque prefere não ver a ver o que não quer.
Infelizmente, ainda assim é o mesmo menino que viu em mim o que ninguém mais pôde ver. O que ninguém mais quis ver. Eu andava tão acostumada às pessoas que apenas preferiam ignorar, que foi esquisito encontrar alguém que me enxergasse tão descaradamente. Tão sem escrúpulos. Você viu em mim o que ninguém mais quis. E fingiu acreditar nas minhas mentiras para que eu me sentisse um pouquinho melhor por ser pega tão desprevenida. Eu fiz o mesmo por você. Eu fingi o tempo todo não ver a descrença por trás de suas palavras sem sentido. E você… Você esteve lá o tempo todo. Mesmo quando eu preferia fingir não ver. Bem ao meu lado, sempre que eu precisei. Sempre que eu fiquei quieta e você pareceu apenas saber que eu precisava de alguém que me desafiasse. Que me fizesse questionar. Sempre que eu fingi não ver você ali. Sempre. Sempre. “After all this time? Always”. Mesmo quando você ria dos meus pensamentos ridiculamente românticos e impossíveis. Mesmo quando você ria de eu chorando com os meus livros nas mãos… Sempre foi você.
Eu sei que você não está me entendendo. Eu sei, tá certo? Você nunca seria capaz de entender, apesar de eu tentar te convencer do contrário esse tempo todo. Você nunca soube como era sentir medo de perder alguém. Você nunca perdeu o ar ao me ver. Suas mãos nunca tremeram ao me tocar. Você nunca perdeu o sono quando o sol saiu e a madrugada chegou. Como você pôde nunca se assustar no escuro? Como você pode continuar inatingível depois de cair tantas vezes? Entende, garoto… Fraqueza não é crime. Querer alguém bem não faz mal. Eu sei que nem sempre você gostou de sentir isso, mas seria diferente. Você tem que saber disso. Eu sou diferente. Depois de todo esse tempo, ainda não deu para perceber? Eu não choraria se você me ignorasse. Eu não reclamaria se você passasse a tarde com seus amigos e não comigo. Você me conhece, por Deus! Você sabe que eu não sou dessas garotinhas chatas e grudentas. Eu sei. Seria difícil e complicado. Nós brigaríamos o tempo todo. Eu iria querer desistir de você. Você preferiria não olhar na minha cara por alguns dias. Mas… Já não vem sendo assim desde sempre? E nós não estamos superando? Apesar de todas as conseqüências, deveríamos escolher aquele que faz a diferença. Aquele sem o qual não podemos viver. E eu sei que faz tempo que eu deveria ter dito isso, mas… Eu escolhi você. Não adianta dizer que o amor não existe. Não adianta tentar me fazer acreditar em mais uma das suas farsas. Eu escolhi você. E… Eu não abro mão da minha própria decisão.
Então, como eu sei que você não é fã de letras, posso simplificar – eu não superei você. E não pretendo superar. E não quero esquecer. E não vou deixar você vencer, dessa vez. Não importa o que você diga, eu garanto que você não está certo. As suas teorias não têm qualquer fundamento. Nós somos diferentes. Nós temos chances. Tudo o que eu mais odeio em você, é tudo o que mais há em mim. A cada passo, cada respiração, cada fala, cada gesto, cada risada, cada brincadeira… Eu te vejo em mim e me vejo em você. Dizer que não quer mais me ver é a mentira mais mal contada de todo o mundo. Não adianta, garoto. Você teria que evitar mirar-se no espelho para me evitar completamente. Não tem como. Desculpa. Eu também não queria ter ido tão fundo nessa história toda. É uma droga que a gente não possa controlar a maneira como se sente, não é?
“Who could ever learn to love a beast?”
Eu."
— Ana F (salt-waterroom)
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