Saí por aquela porta dizendo que nunca mais voltaria. Ele não acreditou, eu já tinha dito essas mesmas palavras tantas vezes. Mas eu sabia que uma hora seria de verdade, devo ter falado as outras vezes para ir me preparando psicologicamente ou coisa parecida. E foi. Eu fui e não voltei. Ele ainda me esperou, ouvi dizer. Eu também estava esperando não aguentar ficar longe dele, mas não é que aguentei? Passou o primeiro dia, a primeira semana, o primeiro mês. E chegou junto o primeiro beijo de outro cara. Foi bom sabe? Durou pouco tempo, mas não pensei em nada durante aqueles minutos. A vida seguiu o seu rumo, eu nem sei onde ele está, como anda, se ainda usa o cabelo bagunçado que eu reclamava. Não faço ideia se ele está feliz, se casou ou se ainda se lembra da gente. Mas nem quero saber, deixa pra lá. Eu disse nunca mais, nunca mais de gritos e noites sem dormir, nunca mais daquele amor doentio onde a cura só encontrei depois. Eu disse nunca mais e isso é forte demais, exige coragem sabia? Coragem que descobri que tinha, mas estava escondida entre tanto orgulho picotado. Coragem de verdade, não aquela que você dizia ter, só por falar o que pensava e magoar os outros de graça. Fui atrevida, deixei quem eu era – ou achava que era – e fui procurar pelo meu eu melhor. E encontrei, sabe. Encontrei pedaços de mim por aí, o meu orgulho se reergueu, a felicidade voltou para a mim. Desde então, tenho dito nunca mais para a via de mão única. E, todos os dias, repetido 'seja bem-vindo amor-próprio'.
Maria Carolina Araujo
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