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quarta-feira, 15 de agosto de 2012


Nosso fim não teve você na soleira da porta, nem último café da manhã. Não teve beijo na testa, muito menos na boca. Nosso fim foi num dia normal, numa semana como qualquer outra. Não tive pausa pra respirar, nem folga do trabalho. Foi um dia comum. Foi um fim comum. Mas mexeu comigo, porque dessa vez foi nosso. Não da mulher do filme, nem da minha amiga pirada, foi nosso. E eu não pude chorar, não pude gritar, nem espernear, porque você não teve a decência de me dizer uma semana antes que queria ir embora. Fez isso de repente, sem aviso prévio. Não deu sinais de que estava cansado, e eu te juro que se deu, eu não percebi. Só notei agora que passei o tempo todo sustentando uma perda de tempo. Quem sabe mais tarde me sirva como aprendizado, mas hoje tudo o que eu consigo pensar é que gastei meses ao seu lado pra nada. E até esse texto besta me parece em vão, sem graça. Com certeza você vai querer deletar como spam na primeira oportunidade. Nem uma introdução decente eu fui capaz de fazer, mas acho que basta a nossa introdução. Eu que sempre fui grilada com romance, namoro e essas coisas, agora acabei traumatizada de vez. Mesmo sabendo que o problema não é comigo, mesmo sabendo que você é que tem essa visão de mundo minúscula, eu não consigo mais. Eu pensei que o que tinhamos era amor, mas eu devia ter visto que não no nosso primeiro fim de semana juntos. Você ficou acomodado no sofá da minha sala vendo não sei que porcaria na televisão - só me garanto de que não era futebol, ou eu estaria vendo também. Eu praticamente não existia do teu lado. E o seu silêncio aos meus comentários e piadinhas era tão nojento, tão inóspito, que a minha vontade foi de romper tudo ali mesmo. Te mandar ciscar em outro terreiro. Porque eu sei, no fundo eu sei e todo mundo sabe que essa tua marra é só isso mesmo. Tua pretensão é sem fundos. Eu fui o macho da nossa relação o tempo todo, eu tive peito pra te chamar pra sair e ainda por cima pagar a conta, eu tive coragem de guardar o orgulho na gaveta e te ligar pedindo desculpas mesmo quando eu não tinha feito merda nenhuma. Enquanto isso você se resignou a mesma faladeira malandra, ao mesmo humor estúpido, persistiu com tua cara sonsa e tua risada demente. E hoje eu me olho no espelho e pergunto pra mim mesma que porra eu estava fazendo ao lado de alguém como você. Você não me merece, e dessa vez não é pra soar como final de filme de comédia romântica, nem é pra te colocar de quatro aos meus pés. Tô só constatando a burrice que eu fiz de ter continuado com você. Esse foi o nosso fim, e eu sei, eu sei o quanto eu devia me sentir bem com isso, eu sei como devia ser tranquilo acordar toda manhã sem ter você pesando nas costas. Na verdade é, sim. É tranquilo, é bom. Mas agora eu sinto falta do coador de pano sujo de café na pia, da televisão ligada…Sinto falta da gastura que me dava te ver sorrindo. Aquela coisa indefinida que arrebentava com a minha cabeça, que me fazia querer vomitar a janta e ao mesmo tempo ser feliz pra sempre. Eu fui dormir lúcida e e acordei drogada, levantei esse fiasco de pessoa com a auto-estima sabe-se Deus onde. O que você colocou no meu suco pra me deixar assim? Mesmo tendo plena certeza de que você é um erro meu cérebro parece ter virado uma gosma cinzenta. Nosso fim foi tão sei lá. Tão nosso e nem um pouco piegas. Foi definitivo, mas você aparece em todo o canto. O fim de uma tortura é só psicólogico mesmo? Quem sabe eu demore anos pra esquecer todos os detalhes sórdidos de você, todo o machismo e todos os sorrisos dementes. Caramba, minha vontade é de socar a tua cara. Você estragou a minha música favorita do Pearl Jam e ainda foi embora sem pagar a conta de luz. Eu te detesto. Você me enjoa de todas as formas possíveis, e eu tô rindo de você agora, tô torcendo pra que um dia você leve um pé na bunda bem gostoso de outra. Você merece porque cada dia pra mim ainda continua uma sessão de masoquismo. Eu odeio ele. Eu não devia sentir falta. Eu não tive culpa. Mas queria ter tido. Ele era um cafajeste. Eu o odeio…? 7 dias na semana. Ia fazer drama com 8 mas você não merece meu drama. Nem essa carta besta. Você não merece nada. Já basta eu ter que sorrir e chorar toda vez que eu admito pra mim mesma que você foi minha maior e melhor perda de tempo. Já basta eu saber que você não me merece, e continuar sendo otária o bastante pra te merecer. Já basta a ligação que eu insisti comigo mesma pra não fazer ontem, já basta. Acabou. Com o tempo eu me recupero, como sempre. É só tentar ignorar o pânico da estréia na boca do estômago. Isso não é um começo, nem preciso gritar. Isso nunca começou, sussurro. Terminou no dia em que eu te conheci e não pode começar agora. Já terninou e isso esse instinto me dizendo que não é só porque eu sou do contra. A gente foi nada. Você foi nada. Isso é nada. Só que o nada já foi um nada mais completo, mais cheiroso, mais cretino. Mas tudo bem, vou tomar meu suco de goiaba. Aliás, vou despejar a jarra inteira na pia e fazer outro. Você pode ter drogado e eu preciso estar forte pra próxima sessão. Pensando bem é melhor comprar pronto. Um pouco de artificialidade na minha vida depois de um tombo de queixo. Quem sabe assim eu não fico sóbria de novo? Você só bebia suco de caixinha. Pensando bem é melhor eu ficar aqui, quieta no meu canto, de olhos arregalados que é pra não se dar ao luxo de cair no sono e depois acordar estranhando. Afinal já terminou e isso é só efeito colateral. Depois passa, repito, depois passa. Até sorrio. E vejo sem querer meu reflexo no espelho de frente a cama. E, olha só! Sorriso demente. Daí que eu sinto uma vontade enorme de quebrar o espelho. Mas eu só levanto, calço o chinelo e pego a carteira. Suco artificial é o de menos agora.
Tortura rima com você, Juliana Nery.

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