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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

“Ela mal sabia qual era a cor do teto da própria casa que viveu durante anos, mas se lembrava do castanho dos olhos dele todo santo dia. Ela também não sabia o que iria comer hoje, mas não se esqueceu do sorvete que tomaram juntos no final do ano passado. Então ela liga no meio da semana, e ele não atende, se atende diz meia dúzia de verdades erradas enquanto ela só queria falar do resto que restou de si própria. Ela ainda se considerava importante a ponto de não ser deixada de lado, mas tudo isso não passava de uma mentira sincera, ela continuava acreditando para não se afogar em seus próprios erros. Ela não o amava por seus músculos, pois não se importava nem com quantas calorias tinha um miojo. Ela amava o humano escondido em baixo daquele telhado. Ela queria continuar naquela rotina segura de querer ter alguém pra alertar, escutar, e principalmente, a amar. O fim de tudo nunca foi missão cumprida pra ela, não era apenas uma pessoa assustada, entediada, desencontrada. Era pior, ela era uma pessoa arrependida, e sentia o preço de não ter agarrado sua chance de ser absurdamente feliz. Era uma paixão devagar, travada, sem pressa, mal justificada, cultivada com sorvetes, cinemas e almoços nos finais de semana. Mas não era o suficiente, ele precisava de algo que crescesse de pressa mas não explodisse e esfarelasse na realidade. Ela sabia que os olhos dele eram castanhos e nunca conseguiria esquecer, pois por trás daquela iris comum, se esconde toda a verdade, que por orgulho, jamais foi revelada. Ele sentia saudade diariamente e um frio que percorria seu corpo toda vez que o telefone tocava, então respirava, abria a voz e fechava a alma, se sentia morto toda vez que desligava o telefone, ia até o banheiro e olhava no fundo dos próprios olhos as verdades que nunca teve coragem de dizer.”

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