Páginas

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

"A gente combinou de se ligar todo dia, não haveria hora, não haveria data, ligaríamos quando víssemos um novo espetáculo no teatro, um livro novo que a critica tenha aclamado, ligaríamos quando estivéssemos com saudade, ou sem sono, ou bêbados e de saco cheio, nos falaríamos quando a saudade apertasse ou quando a grana apertasse, liguei quando uma senhora na rua caiu, não teve graça, mas eu queria ouvir a voz dela, ela ligou quando as seis da manhã um pássaro pousou na sacada do seu apartamento novo, combinamos de ligar por saudade, por desejo, por amor, pelas descobertas do novo mundo, ela me ligava pra dizer que era ruim ir ao circo sem mim, eu ligava dizendo como era ruim arrumar uma gravata que combinasse com uma camisa verde, eu ligava antes de dormir e eu dormia ouvindo a respiração dela, ela sempre dormia ao telefone, ela não gosta que liga muito tarde, mas eu ligava mesmo assim, amava quando ela falava com voz de sono e boceja, amo quando ela me ligava no sábado de manhã e me perguntava sobre o futebol de sexta à noite. Amava a voz dela e ainda amo seu sorriso."
Jorge De Castro

Nenhum comentário:

Postar um comentário