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quinta-feira, 26 de julho de 2012


- Apaga a luz.
- Não.
- Por quê não?
- Porque não quero.
- Não quer por quê?
- Porque você vai me agarrar.
- Se eu quisesse te agarrar, já teria agarrado.
- Então por quê quer a luz apagada?
- Só apaga.
- Não seja estúpido.
- Não seja chata.
- Pronto. Apaguei. 
- Cadê você?
- Bem longe do seu alcance, claro.
- Vem aqui.
- Não enxergo.
- Eu também não. Fica parada.
- Está be… Ei! Cuidado onde pega.
- Desculpa. 
- Posso acender a luz?
- Não. E não me interrompa.
- O quê você vai fazer?
- Introduzir.
- Introduzir o quê?!
- Meu dedo indicador na sua boca se você me interromper.
- Ah, sim. Me assustou, seu tonto.
- Não tenho culpa se sua mente é extremamente maliciosa. 
- Pára de enrolar e fale logo de uma vez.
- O escuro me deixa imponente e inseguro. Eu nunca sei onde piso, onde estou indo e onde vou parar. Diria que tenho medo, não propriamente do escuro, mas de estar sozinho nele.
- Se foi uma piada, eu não entendi. Desculpa.
- Cala a boca e não interrompe, jumenta. Como eu ia dizendo, ficar no escuro é mais ou menos como ficar sem você. Eu não sei como me virar sem você, entende? E perder você é como perder os feixes de luz que penetram pela cortina. Como perder a claridade do Sol. Como perder o oxigênio e todas as coisas essenciais na vida. 
- Está confessando que tem medo do escuro?
- Não.
- Nunca pensei que existia um poeta dentro de você.
- E não existe. Pára de se fazer de boba. Você sabe o que está rolando aqui.
- Me fale mais sobre isso.
- Eu te amo, está bem? Eu te amo tanto que isso está fodendo com a minha cabeça. Eu te quero tanto que ficar mais de cinco minutos sozinho com você está sendo impossível. E é estranho, se é que você me entende. Eu nunca senti isso antes por alguém. Eu nem sei o que é que eu estou sentindo. E eu tive que reunir um bocado de coragem para te dizer isso. Eu amo quando você ri das minhas piadas. Amo quando você vem jogar video-game comigo e quando a gente rola no chão fazendo cócegas um no outro. Eu amo seu cabelo, seus olhos, sua boca, o som da sua voz, o modo como você anda, o jeito que você se veste, seu vocabulário sujo, seu gosto musical, seu jeito de andar, seu jeito de franzir a sobrancelha. Eu poderia ficar com quantas eu quisesse. Eu poderia sair sexta e voltar só domingo. Eu poderia ter coleção de calcinhas e sutiãs na ultima gaveta do meu guarda-roupa. Eu poderia namorar uma morena gostosa, sair com a loira, transar com a ruiva, dar uns pega em cima do capô do meu carro em qualquer uma. Mas eu estou aqui, no escuro, no quarto da guria que eu amo, a pouquíssimos centímetros dela, controlando o desejo e a vontade, tentando dizer para ela que a amo, que não é só sexo, não é só pegação e beijos, que é vontade de estar perto, de dividir um brigadeiro de panela, assistir um filme. Eu até assistiria comédia romântica por você. Não, mentira.
- …
- Você morreu ou está segurando o riso porque tem respeito a minha pessoa para não rir?
- Você fez tudo isso só para dizer que me ama?
- Ué. Queria que eu chegasse simplesmente e dissesse que te amo e quero te pegar loucamente?
- Safado.
- Você quer também que eu sei.
- Por quê você pediu para que eu apagasse a luz? 
- Queria que você visse como eu me sinto sem você.
- No escuro?
- Perdido. Eu me sinto perdido, droga.
- Eu sou a sua luz?
- É. Você é a minha lampada. 
- E você me ama?
- Muito. 
- Você tentando explicar as coisas é terrível.
- Eu sei.
- Você é estranho.
- Eu sei.
- E você fede a baunilha.
- Eu sei.
- E estamos no escuro.
- Eu sei.
- Dá pra parar de responder ‘eu sei’ a tudo o que eu falo e me beijar logo? 
- Só se você me disser uma coisa picante.
- Te quero com molho de pimenta.
- Você é tonta ou o quê?
- Eu sou sua, desde o momento em que coloquei os olhos em você. Agora me beija.
- Beijo.
- E introduza o seu dedo indicador em outro lugar.. Espera! Eu te amo.
- Eu amo pizza.
- O quê?
- Você é um grande e suculento pedaço de pizza.
- Agora ficou melhor.
— Declaração não rima com cama, mas acabou na cama. (sixtyhell)

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