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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Quem entende como as pessoas se apaixonam? Pode acontecer de uma hora para outra. Você conhece uma pessoa a vida inteira e um dia nota alguma coisa, um detalhe que nunca tinha percebido antes, e pimba: amor à milésima vista.
O Valter e a Nancy, por exemplo. Amigos desde o tempo de escola, o Valter conta que aconteceu num dia em que os dois vinham pela rua com uma turma, a Nancy um pouco na frente, e de repente ela levantou o cabelo por trás com as duas mãos e segurou no topo da cabeça, mas sobraram alguns fios. Aqueles fios finos e curtos que cobrem a nuca, o Valter diz que foram os cabelos da nuca.
Ele foi tomado de um tamanho sentimento de carinho por aqueles fios na nuca da Nancy que chegou a parar, diz ele que para não chorar. Depois correu atrás dela e beijou a nunca, e no dia seguinte estavam namorando firme, para surpresa de amigos e familiares.
Já a Nancy diz que não se apaixonou na hora, só dias mais tarde. E só quando o Valter não está perto conta como aconteceu. Se apaixonou numa festa a que foi com o Valter e na qual, quando gritaram “Todo mundo nu!”, o Valter tirou um saco de plástico, dobrado, do bolso. Tinha trazido um saco plástico para guardar a sua roupa e a dela e evitar que se misturassem com as dos outros. Aquilo a enterneceu. “Foi o saco de plástico”, conta a nancy.
Como o amor acaba é outro mistério. A Joyce e o Paquette, por exemplo. Namoraram anos, noivaram, casaram e tudo acabou numa noite. Acabou numa frase. Os dois estavam numa discoteca, sentados lado a lado, vendo os mais jovens se contorcendo na pista de dança, e o Paquette gritou:
- Viu a música que está tocando?
a Joyce:
- O quê?!
- A música. Estão tocando a nossa música. Lembra?
- Hein?
- Estão tocando a nossa música!
- O quê?

- A música. Do nosso noivado. Lembra?
- Eu não consigo ouvir nada com essa porcaria de música!
- Esquece.

- Luis Fernando Veríssimo - Paixões, in Comédias

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