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terça-feira, 19 de junho de 2012


 De repente as letras de Caetano estavam falando por mim. Quando percebi, já era tarde demais.

Tudo na minha vida tava dando certo. Consegui passar para a faculdade de medicina e seguir a carreira da família, dali por diante meu foco era entender o tabu dos apaixonados: coração. Juro que nunca me imaginei sendo cardiologista, mas taí algo que valia a pena arriscar. Mas a vida as vezes te surpreende. Ela as vezes bota algo no seu caminho. Ela as vezes coloca alguém de cabelos pretos como a noite e olhos azuis como o dia. Ela bota Helena. Pelo menos é esse o nome que ela aparenta ter.
Já aconteceu isso com alguém antes? De estar focado em alguma coisa e do nada aparece uma pessoa que faz você esquecer tudo aquilo que estava pensando antes? Foi assim que me senti a respeito da “garota que parece uma Helena”. Meu testosterona falou por mim, observei em volta pra ver se tinha algum lugar vago e tinha um bem ao meu lado, não deu outra. Lá foi a garota que parece ser Helena deixando seus pertences em cima da mesa. “Chegando atrasada já no primeiro dia de aula, mocinha?” — Disse o professor. um tanto rabugento. — “Não vai se repetir” — Ela disse sorrindo. Juro que nunca ouvi uma voz tão doce como a dela. Era aquele tipo de voz que você não ligaria de ter sussurrando no seu ouvido contando uma história qualquer. Era o tipo de voz que você ouviria para sempre. E o sorriso… Era um daqueles que os que queriam ser dentistas ali da sala iriam gostar de ver todos os dias. Ela era linda dos pés a cabeça.
Chegou a hora do intervalo, e a garota que parecia Helena ainda não tinha dito uma palavra se quer comigo, então resolvi dar o primeiro passo.
— Professor rabugento esse Jorge por já estar reclamando de um atraso no primeiro dia de aula não é… — Admito que sempre fui meio cara dura. Não me importaria de passar o resto da vida tentando puxar assunto com alguém que me interessou.
— É… Mas ele está meio que certo. Qual seu nome? — ela perguntou.
— Bernardo. Não diga o seu nome, deixe-me adivinhar. Helena.
Ela sorriu.
— Não, é Isabela… Mas por que pensou que fosse Helena?
— Desde que você entrou por aquela porta eu podia jurar de pés juntos que seu nome era Helena.
Ela sorriu. De novo.
— Gosto de Helena. É um nome bonito… Preciso ir agora, nos vemos depois.
Quando voltamos do intervalo, não voltamos a conversar, mas confesso que de minuto em minuto bisbolhatava-a. Juro que não sei por quê. Vai ver eu queria ver um sorriso daqueles novamente. Fui para casa, de resto meu dia foi normal, mas vai saber por quê eu estava tão ansioso para o segundo dia de aula. Talvez tenha sido a dinâmica aula do professor Jorge. Mentira, ele era um escroto. Talvez tenha sido o delicioso salgado da cantina. Mentira também, era seco e parecia borracha. Ambos sabemos que foi Helena. Digo, Isabela.
Cheguei mais cedo e estava Isabela sentada num banco ouvindo música, sozinha. Não resisti e tive que fazer companhia. 
— O que está ouvindo? — Ela sorriu e parecia surpresa — Não se preocupe, uma hora você vai acostumar com essa minha cara de pau.
— Eu gosto. To ouvindo Caetano Veloso
— Caetano Veloso? Minha mãe ouve ele. como é mesmo? QUANDO A GENTE AMA É CLAAAAAARO QUE A GENTE CUIDAAAAAAA — gritei e ela sorriu pela minha estupidez.
— é “quando a gente GOSTA é claro que a gente cuida…” — ela cantou baixinho. Eu tava certo, era o tipo de voz que você poderia ouvir pra sempre.
— Ah é a mesma coisa…
TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM
tocou o sinal.
Conversamos a aula toda, fizemos trabalhos juntos e contei piadas sem graça para Isabela só para vê-la sorrindo mais uma vez.
Foi passando os dias e eu e Isabela estávamos ficando mais próximos, chegamos ao ponto de combinar de ir para a faculdade juntos já que ela morava perto de mim. Fui almoçar na casa dela e conheci seus pais, obviamente ela me apresentou como amigo, já que o máximo que já tinha dado nela era um abraço de 4 segundos.
Passaram-se 64 dias desde que pensei que Isabela fosse uma Helena. Admito que nesses 64 dias meus pensamentos foram únicos e inteiramente destinados a ela e apenas ela. Juro que uma coisa que nunca gostei são desses casais que ficam de mimimi nhenhenhe pra lá e bobeira pra cá. Mas juro que eu não me importaria de fazer papel de bobo ao lado dela para sempre.
Passaram 5 meses, e planejei dizer a ela tudo o que eu sentia. Liguei para ela e perguntei se podia ir em sua casa porque precisava dizer algo. Juro que eu não ligava de ser correspondido. Eu tava ciente de que meu amor era grande o bastante para eu amar por nós dois. 
Cheguei lá, toquei a campainha e comecei a cantar “as vezes no silêncio da noite… eu fico imaginando nós dois.. eu fico ali sonhando acordado juntando o antes, o agora e o depois…” Ela começou a rir porque pensou que era uma das minhas tentativas de fazê-la sorrir. “Por que você me deixa tão solto? Por que você não cola em mim?” Puxei-a pela cintura e fiz o que estava querendo a mais de 5 meses. Aí ela viu que não era um sorriso que eu queria roubar, dessa vez. Mas sim um beijo. 
— Você é louco. — Ela sorriu olhando para baixo do jeito que sempre faz quando está envergonhada.
— Se eu disser que sou um louco apaixonado, me bateria por ter sido clichê demais?
— Não ligo de um mimimi nhenhenhe as vezes
— “não sou nem quero ser o seu dono, mas é que um carinho as vezes, cai bem.”
— Não era sua mãe que ouvia Caetano?
— Era. Mas então apareceu uma garota que de repente me fez passar a ouvir também.
Quem diria. De repente as letras de Caetano estavam falando por mim. Quando percebi, já era tarde demais. Eu estava apaixonado pela garota que parecia ser uma Helena, e ela, apenas ela, conseguiu me ensinar uma coisa a respeito do coração, que não está em nenhum dos meus livros de medicina.”
 ”Garota que parecia ser uma Helena”, Brenda França - R. Shit  

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