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quarta-feira, 9 de abril de 2014

Todo mundo xinga a destruidora de lares, a ladra de bofes, a vaca que rouba o marido da amiga. A traída normalmente faz uma lista de adjetivos bem lindos para sua rival, sob os olhares solidários e cúmplices das que também já foram um dia trocadas por outra.

A outra sempre leva a culpa. O coitado foi seduzido, escravizado, preso na teia maléfica daquela lambisgóia que planejou cada detalhe sórdido da tórrida história. E a tórrida história dura uma noite, duas semanas, cinco meses, nove anos. E o pobre coitado é enganado por um longo tempo. Dizem que a outra é chegada na macumba, despacho, trabalho, coisa feita. O coitadinho diz que não queria. Meu amor, eu te amo. Meu amor, ela não significou nada pra mim. Meu amor, me aceita de volta. Meu amor, ela foi uma aventura/distração/passatempo/insira aqui sua palavra favorita. Meu amor, eu estava bêbado/chapado/drogado/insira aqui sua desculpa preferida.

Muitos atiram pedras, outros julgam alucinadamente. Ela não vale nada, é uma oferecida, sem caráter, uma infeliz que precisa se sentir poderosa surrupiando por algumas horas/meses/anos o homem alheio. Ela é uma cadela, não entendo por qual motivo precisa ir atrás de um cara casado com tanto homem solto por aí. Ela é uma piada, vagabunda ridícula que não se respeita e não se toca que ele nunca vai deixar a oficial para ficar com a reserva.Ela não percebe que é um lanchinho da tarde, noite ou madrugada.

Ninguém se coloca no lugar da outra, pois todos acham que ser a outra é muito simples. Digo mais: ninguém se importa com a outra, ninguém quer saber como ela se meteu nessa e de que forma ela invadiu uma história que era para ter apenas duas pessoas. A outra, aquela prostituta de quinta categoria, não pode ter sentimentos. A outra, aquela ordinária oxigenada, não pode ter uma história. A outra, aquela biscate cafona, não pode ter se apaixonado perdidamente pelo pobre coitado, que chegou seduzindo e esqueceu de contar que era casado.

Clarissa Corrêa

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